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25 de Abril de 2024

Livro "pornográfico" faz pai processar professora da rede estadual

Por conta da obra "Kitty aos 22: Divertimento" , escrita por Reinaldo Santos Neves, foi alvo (mais uma vez) de controvérsia

Publicado por Camila Moreira
há 6 anos

“De novo?!”, indaga o escritor Reinaldo Santos Neves ao saber que “Kitty aos 22: Divertimento”, obra publicada em 2006, está – mais uma vez – sendo considerado imprópria para adolescentes. O mesmo aconteceu há alguns anos, quando o livro foi adotado para o vestibular da Ufes nos processos seletivos dos anos de 2012 e 2013.

À época, a história da jovem patricinha Kitty, de 22 anos, moradora da Mata da Praia e estudante de jornalismo, já havia gerado controvérsias por levar em seu texto palavrões e passagens que abordam baladas, sexo e outras situações típicas de jovens em seus primeiros passos rumo à vida adulta.

Desta vez, a polêmica se passou no início do mês em uma escola da rede estadual de Vitória. Tudo aconteceu quando uma professora de Português indicou “Kitty aos 22” para alunos do 1º ano do Ensino Médio. “Aí recebi uma notificação do Ministério Público”, explica a professora, que optou por não identificar seu nome ou da escola que leciona.

O autor da denúncia foi Roberto Xavier, pai de uma adolescente que era aluna da professora. “Para uma pré-adolescente, esse livro não é adequado em sala de aula”, opina o funcionário público. “Há tanta literatura que a professora podia colocar, pra que justamente essa? Para induzir o jovem à sexualidade?”, questiona Roberto.

A professora justifica a escolha: “O adotei porque acho um livro divertido, que tem uma linguagem flexível para o aluno”, explica ela, acrescentando um outro fator que, ao seu ver, aguçaria o interesse dos alunos para a obra.

“Eles nunca ouviram falar de um livro que se passasse em Vitória. O aluno se identifica com o lugar em que mora. Por exemplo, a obra fala do Parque Moscoso, no Centro, e é algo próximo deles”, reforça.

Para Reinaldo, mais do que a linguagem flexível e ter como pano de fundo a cidade onde esses alunos vivem, “Kitty aos 22” é um romance sobre jovens.

“O livro fala deles, sobre eles e sobre as coisas deles, como as músicas de que gostam”, explica o autor, entendendo que essa proximidade pode ser benéfica para eles.

“É um incentivo à leitura. Ao invés de os obrigar a ler obras que não têm nada a ver com eles e que, por mais que tenham qualidade literária, estão distante deles. O próprio Machado (de Assis) está mais distante deles do que ‘Kitty’”, reforça o escritor, autor de livros como “Reino dos Medas”, “Sueli: romance confesso” e a trilogia “A Folha de Hera”.

“Pornografia”

Antes de recorrer ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Roberto Xavier afirma ter lido “Kitty aos 22: Divertimento”. Para ele trata-se de uma obra pornográfica. “Ela induz o adolescente a um caminho que pode ser preservado”, explica o pai, que até já retirou a filha da escola, mas pretende manter a ação.

Quem defende a obra é o escritor e editor Saulo Ribeiro. Para ele, o processo do pai é ilógico. “Mesmo que o livro não tivesse a relevância que tem, isso é um absurdo”, diz ele, relembrando a indicação ao Vest Ufes e que o título de Reinaldo já foi contemplado no edital de compras da biblioteca da Sedu.

Por mais que a obra se debruce sobre a vida e o dia a dia de jovens, o escritor reconhece que há, em seu romance, um certo moralismo. “No sentido de tentar converter os jovens para uma vida de mais significado”, diz.

Procurado pela reportagem para comentar a situação, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou que, por meio da Promotoria de Justiça Cível de Vitória, que “abriu o procedimento para apurar o em caso em tela”.

ANÁLISE

Vivemos tempos sombrios

Reinaldo Santos Neves é um patrimônio cultural do Espírito Santo, uma referência quando se trata da literatura feita com o compromisso na originalidade, conteúdo e pesquisa. Um dos autores mais sofisticados do país. “Kitty aos 22 – Divertimento” traz uma visão seca da juventude contemporânea. Me perdoem o espoiler: é a releitura da clássica história da gata borralheira. Uma jovem passando pelo dolorido processo de amadurecimento. Estamos presenciando tempos sombrios. O ser humano nasce nu e isso nunca foi um escândalo. O próximo passo será fazer fogueiras de livros em praças pública?

Sérgio Blank

Escritor

Matéria originalmente publicada no www.gazetaonline.com.br

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/livro-pornografico-faz-pai-processar-professora-da-rede-estadual/514109770

2 Comentários

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Acredito que essa professora de sorte, pois, eu não procuraria o Ministério Público...

Pornografia infantil se combate com a autotutela... continuar lendo

Convenhamos que o autor do texto ao dizer "tempos sombrios" adota um jargãozinho de esquerda que parece mais uma justificativa a um livro um tanto vazio de conteúdo ... li algumas de suas passagens e deixo o link abaixo:

https://www.yumpu.com/pt/document/view/12496161/kitty-aos-22-divertimento-estacao-capixaba

E ao dizer "O ser humano nasce nu e isso nunca foi um escândalo" ... ah tá! Então vamos deixar as crianças e adolescentes nuas em salas de aulas, ou exposições artísticas, afinal elas são humanas e vieram nuas ... e a psicologia infantil que sucumba à ideologia de esquerda ... tenha paciência né? Onde fica o princípio do melhor interesse do menor?

Como já disse, a ideologia política hoje canibaliza todas as áreas de conhecimento.

Ao insinuar que não há nada de anormal no uso de palavreado excessivo ou linguagem vulgar, não deixo de me perguntar: por quê ele não usa isso em seu texto? Por quê não usamos isso aqui nos comentários do JusBrasil?

Nos policiamos em nosso dia a dia e convenhamos, por mais que um adolescente ache descolado falar palavrões ou indecências, ninguém quer ter um filho desbocado e tão pouco, agora que somos adultos, sermos desbocados. Não fazemos isso no nosso local de trabalho (presumo a todos), adotaremos isso como costume em sala de aula partindo de professores?

Eu também já fui um estudante desbocado, por conta própria, e isso não me trouxe nada de positivo, tanto que busquei me corrigir. É a falsa ideia de liberdade sendo vendida por discursos políticos. continuar lendo